terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Entrevista: Faça amor, não faça chapinha

Da esquerda pra direita: Amanda, Nathália, Alice, Letícia e Katarina
Ontem vimos um triste episódio na TV, o repórter Felipe Andreoli, recém-contratado da Rede Globo para trabalhar no “Encontro com Fátima”, cometeu uma enorme gafe ao falar dos cabelos cacheados/crespos, mas (ainda bem) que Wanessa da Mata retrucou e defendeu  a quebra dos padrões de beleza ditados pela mídia convencional. Surpreendentemente, eu decidi entrevistar as meninas do “Faça amor, não faça chapinha” no domingo, um dia antes. Elas defendem a não existência do “cabelo ruim” ou “cabelo bom”. Segue abaixo a entrevista com Letícia Carvalho, integrante e fundadora do FANFC. Espero que você goste de ler, porque a entrevista está um pouquinho grande (kkkkk).



LdeLiberdade (LdeL): Bem, vamos começar, serei direto, como surgiu o “Faça amor, não faça chapinha (FANFC)”?

Esboço de Letícia
Letícia Carvalho (LC): Inspirada pela página “Faça amor, não faça a barba” ter causado certa revolução estética em relação ao que era dito como "aparência desleixada" e afins ao valorizar a barba, criei o esboço do que seria uma versão da página só que com foco no cabelo, pois eu desejava que houvesse também esse tipo de "revolução estética" em relação à visão negativa que se tinha do cabelo dito como "ruim" por estar fora dos padrões sociais, que ditam, entre outras coisas, que o cabelo liso é o correto. Postei então no meu Facebook pessoal esse esboço com a legenda “Faça amor, não faça chapinha”. A postagem teve uma grande repercussão e então criei a página.

LdeL: O FANFC é um movimento relativamente novo. Vocês pensam em continuar com a página, ou o FANFC já tem dia pra acabar?

LC: Nós não pretendemos acabar com o movimento. Pretendemos, sim, expandi-lo cada vez mais. A luta do FANFC é diária e contínua e temos muito que lutar. Lutamos por representatividade, visibilidade, aceitação e respeito, que são coisas que precisam ser afirmadas e reafirmadas todos os dias, é uma luta que não pode de deixar de existir. Seja como uma página no Facebook ou não, pretendemos continuar com o movimento sem prazo pra acabar.

LdeL: A página do FANFC não é curtida apenas por quem tem cabelo cacheado, o que vocês pensam disso? Todos na página procuram se identificar independente do que a mídia disser?

Foto: Divulgação/Internet
LC: Na verdade o foco da página não é especificamente sobre cabelo cacheado. O “Faça amor, não faça chapinha” defende a liberdade e o respeito, tendo como foco de sua luta, quebrar os padrões estéticos de beleza em relação ao cabelo, tentando sempre desmistificar a ideia que se tem do que é "cabelo ruim" e "cabelo bom", buscando a valorização da beleza plural e individual. Procuramos dar visibilidade à beleza que está fora dos padrões sociais, que geralmente não tem espaço nas grandes mídias. Isso tudo enquadra muita coisa e atinge muitas pessoas. A questão é que, se você não está no padrão, você sofre com isso de alguma forma, o que é absurdo. Acontece que, apesar disso ser tão rígido, poucas pessoas se encaixam naturalmente nesse padrão e muitas pessoas estão fora dele e se identificam nessa luta. Creio que o sucesso da página esteja diretamente ligado a isso. São muitas pessoas que sofreram com o problema que apontamos e que têm vontade de lutar contra ele conosco.



LdeL: Tipo, a mídia costuma impor estereótipos de beleza, determinar o que é feio e o que é bonito; o FANFC veio pra se contrapor a isso. Mas se, um dia, a mídia convencional dissesse que ter cabelo liso é feio e agora o que tá na alta é cabelo cacheado, crespo, vocês criariam o “Faça amor e faça chapinha”? (kkkkkk)

LC: Com certeza não. A ideia da página não é apenas ser “do contra”, existe todo um caráter político e social por trás disso tudo. Ao contrário do que tentam fazer parecer, a afirmação do cabelo cacheado e crespo (principalmente) não é por modismo. Lutamos pela afirmação das pessoas na sociedade da forma que elas são. Lutamos principalmente pela autoestima das pessoas, pelo amor próprio, para que elas se sintam bem sendo o que elas realmente são, não pelo que esperam que elas sejam. É justamente de ser contra a imposição de que se deve usar desse ou de outros métodos para "alcançar a beleza" que se trata o FANFC. Somos contra a implantação da ideia absurda de que, como já diz lindamente o texto de Emicida e Elisa Lucinda, “ter que ser outro para ser alguém.”

LdeL: Muita gente envia depoimentos pra vocês, mas sempre tem um depoimento que realmente marca. Qual foi o exemplo que mais marcou vocês, quem foi ajudado pela página e entrou pra história do FANFC?

Foto: Fernanda Cavalcanti
LC: Acho que cada administradora vivenciou uma situação diferente e marcante. Um dia desses estávamos na rua e uma menina super emocionada veio dar um abraço em Katarina, pois disse que foi graças a ela que decidiu abandonar a química e fazer a transição, o que nos faz ver o quanto a visibilidade proporcionada pela página é importante. Porém, pra mim, a história que marcou foi de uma criança do Sul, que estudava numa escola onde todos tinham cabelo liso exceto ela, que sofria bullying com isso e, por consequência, odiava seu cabelo, porém, achava as moças das fotos postadas na página lindas. A irmã dessa criança curtia a página e nos enviou uma foto dela. Um tempo depois ela estava com a irmã olhando a página e viu sua foto repleta de elogios e disse “que menina linda!” e sua irmã respondeu “é você!”. No dia seguinte a menina chegou na escola com seu cabelo solto, cheia de orgulho dele e, como sempre, soltaram piadinhas de mal gosto, porém, dessa vez ela respondeu, dizendo que era linda e que tinha orgulho de seu cabelo. Que era linda por ser diferente, e as crianças pararam de fazer bullying com ela e ela passou a se amar por ser quem é.

LdeL: Sempre tive uma dúvida, confesso, por que o “faça amor” e não qualquer outra coisa?

LC: Como eu disse, o FANFC iniciou na referencia da “Faça amor, não faça a barba”, que usou a frase “Faça amor, não faça guerra”, de John Lennon pra falar de seu tema (barba). Bebendo dessas fontes todas foi que surgiu o nosso nome, mas a interpretação que usamos do trecho “faça amor”, no nosso caso, é pra falar de respeito, amor próprio e amor ao próximo, mas, também, numa menção a um dos sentidos da frase original, a de John Lennon, também usamos pra fazer de liberdade.
I Encontro Faça Amor, não faça chapinha

LdeL: Normalmente, por cultura eu acho, as meninas se preocupam mais com o cabelo, mas quando visitei a página de vocês eu percebi que muitos meninos demonstram essa preocupação. Vocês acham isso legal ou veem algum problema nisso?

LC: Isso é ótimo, pois não são só mulheres que são afetadas quando se fala de padrão. Um exemplo é pensar que um homem de cabelo liso e um pouco grande não enfrenta os problemas pra conseguir um emprego, por exemplo, que um homem de cabelo crespo, um pouco grande, receberia. O homem também tende a passar por preconceito quando tem um cabelo fora do padrão. Portanto, também fazem parte desse tema.

LdeL: Agora um jogo rápido: defina o FANFC em uma só palavra.

LC: Liberdade.

LdeL: Obrigado por responder às perguntas. Muito sucesso pra todos vocês!!

LC: Valeu, também!



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