quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Sobre o que importa


São 6h da manhã, o despertador toca, mas eu ignoro ele e continuo dormindo. Pensei: em 5 minutos me levanto. Ledo engano. Só às 6h36 é que acordei de fato. Um pouco tarde pra quem precisa estar às 8h no centro da cidade. Vida que segue. Fiz o que sempre faço ao me acordar, agradeci a Deus por aquele dia e falei com a pessoa que mais importa pra mim, desejei a ela um bom dia e partir pra me arrumar e sair pro estágio. Eu estava eufórico, aquele dia era o dia em que eu faria minha primeira entrevista para escrever uma reportagem. Era a primeira grande entrevista - sei que posso estar exagerando. Fiz tudo apressadamente. Exceto uma coisa. Raramente tomo café da manhã, mas nesse dia eu tomei: comi dois pães assados e tomei uma xícara de café. Comi pausadamente, como quem se dedica a sentir o sabor do que come. As coisas só foram lentas nesse momento. Voltei a correr. Escovei os dentes, aviso à pessoa mais importante pra mim que estou de saída e saí com o canto da boca melado de pasta de dente ainda (o que só percebi no espelho do bus). Corri o máximo que pude para não me atrasar, mas esqueci de combinar com o motorista do ônibus. Ele ia extremamente devagar, parecia que estava quebrado. Alguém grita: "tá quebrado é, motô?", isso fez o motorista acordar e andar com um pouco mais de pressa. Chego ao estágio. Sou, como quase sempre, o primeiro a chegar. Mando um whatsapp pra pessoa que tenho por mais importante avisando que cheguei e a mim está destinada a tarefa diária e desinteressante de clipar coisas. Começo minhas atividades. A manhã se passa. O meu expediente no estágio se encerra. Hora do almoço. Uma ótima hora. De novo, mando um whatsapp pra pessoa mais importante da minha vida e digo a ela que deu minha hora e vou comer. Vou com os colegas do estágio almoçar. Me farto a ponto de ter muito sono. Em tese, eu deveria ir à faculdade naquela tarde, mas eu gastaria muita passagem, porque poucas horas depois eu deveria voltar ao centro da cidade para realizar a entrevista. Mas volto pro estágio (fui autorizado a voltar pra lá para apenas realizar pesquisas para minha entrevista). E assim como quando saí, aviso àquela pessoa importante que estava de volta. Faço as pesquisas para minha entrevista e nem vejo a hora passar. São 15h e começo a organizar minha mesa para ir à Câmara de Vereadores, onde minha entrevista seria feita. Nem preciso falar o que fiz antes de sair, mas falarei ainda assim: avisei àquela pessoa importante via "aplicativo de mensagens" que estava saindo. Fui em direção à parada de ônibus tomado por uma ansiedade e muitas expectativas. Espero o ônibus por apenas uns 4 minutos. Subo nele, que chega ao meu destino com uma rapidez inimaginável para mim. Eram 15h26, quase uma hora antes do horário marcado para a entrevista. Decido, então, assistir a sessão daquele dia. Sessão essa que merece um texto à parte. Preciso denunciar as posturas de alguns daqueles parlamentares. Após mais ou menos 1 hora e 10 minutos, a sessão acaba e meu coração acelera. Tava chegando a hora de eu entrevistar de verdade alguém. E escolhi logo um vereador formado em jornalismo para ser meu entrevistado. Vou em direção ao gabinete 34. Chegando lá sou recebido muito bem pela assessoria do parlamentar, que ainda não havia saído do plenário da Câmara. Quando ele chega, me saúda e educamente me pede pra esperar enquanto se desarma da sua gravata e paletó (itens obrigatórios no plenário). Menos formal, o vereador me convida à sua pequena sala e a entrevista começa. Achei que só usaria 15 minutos pra entrevistar ele, mas a conversa foi ficando boa e quando vimos já estávamos em mais 30 minutos quando a entrevista encerrou. Chegou a hora de voltar pra casa e aviso à pessoa mais importante pra mim que estou saindo. O ônibus demorou um bocadinho. Coisa comum para o horário. O bus chega, embarco nele e tento contato com a pessoa que considero mais importante. Seu celular bugou e não pegava. Quando consigo falar com a pessoa, ela me diz que precisava ir ao mercado ao tempo que dizia que quando chegasse falaria comigo. Antes disso chego em casa e lhe mando uma mensagem, lida mais de 1h depois quando a pessoa chegou do mercado. Ela chegou e dali em diante começamos a conversar. A conversa foi, por minha culpa, tomando um rumo não tão bom e acabamos discutindo. Eu acusava a pessoa de não se importar com o que era importante pra mim. Isso tudo porque ela não me perguntou sobre meu dia. Estava sendo um tanto tolo naquela hora. Tenho certeza disso. Fui dormir triste com isso que criei. Não era pra menos, eu sabia que aquela pessoa se importava comigo e com o que era importante pra mim. Eu, aparentemente, não queria entender que algumas não atitudes da pessoa podiam ser apenas uma desatenção pontual para aquele período que lhe joguei na cara como o período da mudança. Me sinto mal por isso. Mas foi o medo de deixar de ser importante pra aquela pessoa. É importante pra mim ser importante para ela, que é importante pra mim. Eu quero contar do meu dia, das peripécias que cometi e da entrevista que fiz ou farei sempre. É importante pra mim ouvir/ler a pessoa falar sobre seu dia, sobre como foi sua noite de sono e outras coisas mais. É importante pra mim poder falar com ela. Tão importante que, enquanto escrevia esse texto, fui interrompido diversas vezes para conversar com essa pessoa. Não me arrependo. Prefiro dar valor ao que tenho de mais valioso sem que seja preciso perdê-lo. 

Por isso que escrevi esse texto. Ele é sobre o que importa. Sobre quem importa. E não estou falando de mim.

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