domingo, 27 de setembro de 2015

Um perfil curioso



Nada de humildade, nada de ambição, simplesmente curiosidade. A curiosidade é humildade e ambição ao mesmo tempo. Porque na curiosidade a gente é humilde para aprender e ambicioso a ponto de não desistir da busca.

A curiosidade está longe (e perto) de dois problemas extremos, é como se fosse uma prima distante: ela está longe do problema de quem é humilde, a tentativa de apenas ser súdito e longe, também, do problema do ambicioso, que só quer ser a majestade.


Curiosidade é uma das coisas mais equilibradas do mundo: uma medida perfeita. Os estados de espírito são neutralizados. A curiosidade impede que alguém seja megalomaníaco e proíbe que seja “coitadinho”.

Como eu disse, a curiosidade é uma medida perfeita! O curioso não é nada a mais que o curioso. Até porque ele não pode ser mais do que curioso, é a natureza dele. Ele é imune à doença da fama e do excesso. O curioso é alguém incansável, persistente e insistente. Ao invés de resmungar, pergunta e corre atrás de respostas pra descobrir o que falta.

O curioso é discreto para que suas descobertas sejam latentes, mas não deixa de ser visível. O curioso faz perguntas idiotas, mas o faz na tentativa de conseguir respostas infinitamente mais inteligentes que as perguntas. O curioso é esperto.

O curioso é corajoso, não tem medo de expor suas dúvidas. O curioso sempre busca mais, pois sabe que sempre haverá algo novo para ser descoberto. Já diz Carpinejar  que o curiosoé independente, enfrenta a banalidade e a complexidade com desembaraço, acolhe o óbvio e o abstrato com democrática simpatia.”

O curioso não é inventor de empecilhos para impedir a realização de sonhos, ele dispensa a desculpa pelo entusiasmo da realização, pois sabe que isso completará as lacunas que suas interrogações criaram.

O curioso nunca, jamais é ingrato. Sempre recebe com euforia presentes, mesmo que não passe de uma “lembrancinha”. Se receber um CD de Pablo, o curioso escutará só pra tentar entender o porquê de tanta sofrência e um dia dizer que o ouviu o CD. Ele — ta ligado? — não fará aquela cara que, geralmente, fazemos quando somos surpreendidos negativamente.

O curioso é dedicado: “ao estudar sobre aviação, é capaz de voar. Ao estudar sobre orquídeas, é capaz de cultivá-las.” Isso é bom e muitas vezes nos falta.

O curioso é amável, não descarta nada nem ninguém. Ele conversa do mesmo modo com a presidenta da República e com o porteiro do seu prédio. Ele não muda sua  personalidade ao conversa com um grande empresário ou um excelente zelador. O que ele faz é extraordinário: busca sempre compreender como aquela pessoa se formou, quais são suas fraquezas, forças e anseios. Assim ele quebras seus tabus, desconstrói seus paradigmas e desarma seus preconceitos com muito respeito e intimidade. O curioso nunca será melhor do que o outro, pois ele sabe que sempre melhorará com o outro.


O curioso é o tipo de pessoa que está faltando hoje.

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