Nada de humildade, nada de ambição, simplesmente curiosidade. A
curiosidade é humildade e ambição ao mesmo tempo. Porque na curiosidade a gente
é humilde para aprender e ambicioso a ponto de não desistir da busca.
A curiosidade está longe (e perto) de dois problemas extremos, é como se
fosse uma prima distante: ela está longe do problema de quem é humilde, a
tentativa de apenas ser súdito e longe, também, do problema do ambicioso, que
só quer ser a majestade.
Curiosidade é uma das coisas mais equilibradas do mundo: uma medida
perfeita. Os estados de espírito são neutralizados. A curiosidade impede que
alguém seja megalomaníaco e proíbe que seja “coitadinho”.
Como eu disse, a curiosidade é uma medida perfeita! O curioso não é nada
a mais que o curioso. Até porque ele não pode ser mais do que curioso, é a
natureza dele. Ele é imune à doença da fama e do excesso. O curioso é alguém incansável,
persistente e insistente. Ao invés de resmungar, pergunta e corre atrás de respostas
pra descobrir o que falta.
O curioso é discreto para que suas descobertas sejam latentes, mas não
deixa de ser visível. O curioso faz perguntas idiotas, mas o faz na tentativa
de conseguir respostas infinitamente mais inteligentes que as perguntas. O
curioso é esperto.
O curioso é corajoso, não tem medo de expor suas dúvidas. O curioso
sempre busca mais, pois sabe que sempre haverá algo novo para ser descoberto.
Já diz Carpinejar que o curioso “é independente, enfrenta a
banalidade e a complexidade com desembaraço, acolhe o óbvio e o abstrato com
democrática simpatia.”
O curioso não é inventor de empecilhos para impedir a realização de
sonhos, ele dispensa a desculpa pelo entusiasmo da realização, pois sabe que
isso completará as lacunas que suas interrogações criaram.
O curioso nunca, jamais é ingrato. Sempre recebe com euforia presentes,
mesmo que não passe de uma “lembrancinha”. Se receber um CD de Pablo, o curioso
escutará só pra tentar entender o porquê de tanta sofrência e um dia dizer que
o ouviu o CD. Ele — ta ligado? — não fará aquela cara que, geralmente, fazemos
quando somos surpreendidos negativamente.
O curioso é dedicado: “ao estudar sobre aviação, é capaz de voar. Ao
estudar sobre orquídeas, é capaz de cultivá-las.” Isso é bom e muitas vezes nos
falta.
O curioso é amável, não descarta nada nem ninguém. Ele conversa do mesmo
modo com a presidenta da República e com o porteiro do seu prédio. Ele não muda
sua personalidade ao conversa com um
grande empresário ou um excelente zelador. O que ele faz é extraordinário: busca
sempre compreender como aquela pessoa se formou, quais são suas fraquezas, forças
e anseios. Assim ele quebras seus tabus, desconstrói seus paradigmas e desarma
seus preconceitos com muito respeito e intimidade. O curioso nunca será melhor
do que o outro, pois ele sabe que sempre melhorará com o outro.
O curioso é o tipo de pessoa que está faltando hoje.
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